Realimentação positiva: algo importante, mas que pouco ouvimos falar.
Neste post discutiremos o que é a realimentação positiva, qual a relação com a realimentação negativa e com sistemas instáveis.
Nos próximos posts falaremos sobre comparadores Schmitt-trigger e como eles utilizam realimentação positiva.
Realizaremos uma análise básica sobre realimentação positiva. Para uma discussão completa sobre o assunto recomendo livros sobre controle de sistemas lineares, como Livro: Engenharia de Controle Moderno (Ogata). Veja outros livros sobre controle em Categoria: Livros de controle.
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Realimentação positiva
No post Teoria: Realimentação (Feedback) vimos que realimentação consiste em amostrar a saída de um sistema e subtrair (ou somar) parte desta amostra no sinal de entrada.
Dependendo da operação realizada com o sinal amostrado da saída (subtrair ou somar) obtemos realimentação negativa ou positiva. Podemos ver que no post acima o sinal que passa pelo bloco H é subtraído do sinal de entrada, enquanto neste post o sinal é somado, caracterizando os dois tipos de realimentação.
Podemos obter a equação do ganho realimentado a partir da equação abaixo (mesmo método que no post sobre realimentação).
Na equação do ganho realimentado a diferença entre realimentação negativa e positiva é simplesmente o sinal de mais+ ou menos- antes de GH. (¡¡¡ Note que realimentação NEGATIVA tem o sinal mais+ e realimentação POSITIVA tem o menos- !!!)
Na prática os dois tipos de realimentação tem funções completamente diferentes.
A realimentação negativa atua de forma a atenuar o sinal de entrada no amplificador, para controlar o ganho do sistema de acordo com o ganho de realimentação (bloco H).
A realimentação positiva, por sua vez, reforça o sinal de entrada no amplificador. Isso pode causar duas coisas: aumentar o ganho do amplificador realimentado; ou tornar o amplificador instável.
Sistemas estáveis e instáveis
Aqui é onde entra o estudo de controle de sistemas!
(É preciso deixar claro que a partir daqui estamos discutindo o modelo matemático do sistema, não o sistema em si. Veremos nos posts sobre comparadores Schmitt-trigger que, mesmo sendo um sistema instável, a saída não vai para o infinito.)
Em sistemas estáveis a saída será estável se a entrada for estável. Ou seja, se a entrada não ir para ±infinito a saída também não vai. Isso, por exemplo, é perfeito para amplificadores e controle de sistemas.
Já em sistemas INSTÁVEIS o mesmo não acontece! Não importa o que há na entrada, pode ser instável, estável ou zero… a saída vai tender a ±infinito. A saída pode tender a +infinito, a -infinito ou oscilar com aplitude tendendo ao infinito.
Ao projetar um controlador de um sistema queremos ficar LONGE da instabilidade! Por isso precisamos conhecer o que é e como funciona realimentação positiva: pois ela está a um passo da instabilidade. E há técnicas para determinar o quanto o sistema está longe da instabilidade (margem de ganho e margem de fase).
Sistemas estáveis com realimentação positiva
Um sistema é estável enquanto o denominador da equação de ganho realimentado é positivo (maior que zero, mas não igual a zero).
Veja que quando o sistema está configurado com realimentação positiva será difícil manter a estabilidade, pois os valores estáveis de GH são bastante restritos.
A equação de ganho é inválida para sistemas instáveis
Mas porque o sistema é estável somente enquanto o denominador da equação de ganho realimentado é positivo?
Isso deve-se ao fato da equação de ganho realimentado é inválida para sistemas instáveis!
Vejamos o gráfico abaixo (código no fim do post). Em primeiro lugar, para a geração do gráfico consideramos H=1. No gráfico vemos o ganho do amplificador G crescendo de 0 até 2.
Com G indo de 0 até 1 vemos o ganho do sistema ir de zero até tender a +infinito. Nesta parte, exceto quando G=1 o sistema é estável (sistema estável se ).
Veja que o quando G=1 o ganho Gf vai para o +infinito e logo depois é negativo, vindo do -infinito! É neste ponto que o sistema se torna instável e a equação de ganho realimentado não é mais válida.
Note a contradição entre o ganho realimentado e o comportamento do sistema:
Ganho realimentado:
* Considerando G=2 e H=1;
* Gf = G/(1-GH) = -2
Comportamento do sistema:
* Considerando G=2 e H=1;
* Coloque o sinal vi0=1 na entrada,
* Teremos o sinal 2 [vi0 G] na saída,
* Teremos o sinal 2 [vi0 G H] na realimentação somando com vi,
* Teremos o sinal 6 [(vi0 + (vi0 G H)) G] na saída,
* Teremos o sinal 6 [(vi0 + (vi0 G H)) G] na realimentação somando com vi,
* Teremos o sinal 14 [(vi0 + (vi0 + (vi0 G H)) G) G] na saída,
* E assim por diante…
O ganho Gf é negativo e o sinal de saída do sistema é positiva para entrada positiva!!! (?)
O que aconteceu com a matemática???!!!
Contradições geralmente revelam que algo não está sendo tratado corretamente.
Neste caso, a equação de ganho realimentado Gf é válida apenas quando o sistema é linear. E, a partir do momento que o ganho G passou pelo valor 1, o sistema não é mais linear!
Exatamente! O sistema se torna exponencial instável.
De forma direta: a equação e o uso dela não faz mais sentido assim que o denominador (1 – GH) torna-se zero.
É precisamente isso que tentamos evitar ao realizar a análise de estabilidade e controle de um sistema.
Aplicações
Mas não simplifique demais as coisas: realimentação positiva não é algo que deve-se fugir a vida toda!
Há aplicações onde ela é essencial ou, no mínimo, muito importante. Algumas aplicações são:
– Osciladores
– Comparadores com histerese (Schmitt-trigger)
Fique ligado para não perder os próximos posts, onde veremos comparadores Schmitt-trigger.
Código para o gráfico
Este é o código MATLAB/OCTAVE para gerar o gráfico.
% MATLAB/OCTAVE % Código para gerar o gráfico de ganho com realimentação % positiva com ganho de amplificador variando % Gf = G/(1-GH) vs G H = 1; G = (0 : 0.001 : 2); Gf = G./(1 - G .* H); plot(G,Gf) xlabel('G (ganho do amplificador)') ylabel('G_f (ganho realimentado)') legend({['H = ', num2str(H)]}) grid on xCenter = 1/H; xDiff = (max(G)-min(G))/2; axis([xCenter-xDiff xCenter+xDiff -50 50])
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Esse post salvou o meu trabalho para a Fac. Engenharia, IFSUL-Pelotas!
Os livros não colocam a realimentação positiva de forma tão clara assim, só dizem que
conduz à instabilidade, mas falam quase que só em estabilidade de realimentação negativa.
Parabéns !!
Paulo